terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A ESCRITA INSONDÁVEL | Ensaio fotográfico




Muito mais do que ser um simples instrumento para reproduzir a realidade, a câmara fotográfica se converteu em um valioso meio pictórico. Nas mãos de um poeta – pois de poesia sempre se trata – as lentes se convertem no que André Breton chamou de “observatórios do céu interior”. Disto já sabiam bem os primeiros astrônomos imbuídos de hermetismo, que manipularam telescópios e microscópios, percebendo na imensidão a harmonia das esferas. O Romantismo descobriu as possibilidades poéticas que a fotografia acrescentava ao nosso conhecimento da realidade. Explico: emprego o verbo conhecer em seu sentido bíblico, que é o ponto de partida de Floriano Martins para reproduzir as composições que surgem magicamente do interior de seus aparados fotográficos.

Digamos então que os fluidos vitais de suas imagens correspondem a outras evidências, surpreendidas pelos surrealistas a partir da invenção do collage por Max Ernst. Como resultado daquela descoberta, a alquimia que também emprega a linguagem erótica se instaurou como um meio de intuir o que o véu da chamada realidade escondia. Para Floriano Martins as leis do funcionamento da fotografia, aparentemente inalteráveis, ficaram transgredidas da mesma maneira que sucedeu com a justaposição de realidades opostas nos collages do pintor nascido nas margens do Reno. Floriano Martins começa então sua longa e vigorosa exploração do mundo exterior correspondente com o interior, como sempre quiseram os discípulos de Hermes.

As fotos eróticas de Floriano Martins constituem, neste sentido, a expressão de uma arte que os alquimistas praticaram mediante suas permutações. Em seu caso a carnalidade das imagens nos brindam a chave de uma ars combinatória em vias de se transformar em ars amatoria, onde as zonas erógenas se mantêm em contato voluptuoso, ao mesmo tempo em que parecem sussurrar versos retirados da grande tradição da poesia amorosa de todos os tempos.

Carlos M. Luis





Mucho más que ser un simple instrumento para reproducir la realidad, la cámara fotográfica se ha convertido en un valioso medio pictórico. En manos de un poeta –pues de poesía siempre se trata- los lentes se convierten en lo que André Breton llamó “observatorios del cielo interior”. Eso lo sabían bien los primeros astrónomos imbuidos de hermetismo, que manipularon telescopios y microscopios, percibiendo en la inmensidad la armonía de las esferas. El Romanticismo descubrió las posibilidades poéticas que la fotografía le añadía a nuestro conocimiento de la realidad. Me explico: empleo el verbo conocer en su sentido bíblico, que es el punto de partida de Floriano Martins para reproducir las composiciones que surgen mágicamente del interior de sus aparatos fotográficos.

Digamos entonces que los fluidos vitales de sus imágenes corresponden a otras evidencias, sorprendidas por los surrealistas a partir de la invención del collage por Max Ernst. Como resultado de aquel descubrimiento, la alquimia que también emplea el lenguaje erótico, se instauró como un medio de intuir lo que el velo de la llamada realidad escondía. Para Floriano Martins las leyes del funcionamiento de la fotografía al parecer inalterables, quedaron transgredidas de la misma manera que sucediera con la yuxtaposición de realidades opuestas en los collages del pintor renano. Floriano Martins comienza entonces su larga y enjundiosa exploración del mundo exterior correspondiente con el interior, como siempre lo han querido los discípulos de Hermes.

Las fotos eróticas de Floriano Martins constituyen en ese sentido, la expresión de un arte que los alquimistas practicaron mediante sus permutaciones. En su caso la carnalidad de las imágenes nos brindan la clave de un “ars combinatoria” en vías de transformarse en “ars amatoria”, donde las zonas erógenas se mantienen en contacto voluptuoso, al mismo tiempo que parecen susurrar versos entresacados de la gran tradición de la poesía amorosa de todos los tiempos.

Carlos M. Luis







Far more than a simple instrument for replicating reality, the câmera has become a valuable pictorial medium. In the hands of a poet – as poetry is all-pervasive – the lenses turn into what André Breton called “observatories of the inner sky”. The early Hermetic astronomers knew this already, manipulating telescopes and microscopes, perceiving the harmony of the spheres in the vastness. Romanticism discovered the poetic possibilities that photography added to our knowledge of reality. Allow me to explain: I use the verb “to know” in its Biblical sense, which is Floriano Martins’s starting point to create the compositions that appear magically out of his photo clippings.

Let us say, then, that the vital fluids of his images correspond to other pieces of evidence Surrealists caught starting with Max Ernst’s invention of collage. As a result of their discovery, alchemy, which also relies on the erotic language, stood as a means to guess at what hid behind the veil of the so-called reality. For Floriano Martins, the apparently fixed laws of photography were breached in the same way that occurred with the juxtaposition of apparently opposite realities in the collages of the painter born on the banks of the Rhine. Floriano Martins thus begins his lengthy and vigorous exploration of the outside world in correspondence with the inner one, as the disciples of Hermes always wanted.

In this sense, Floriano Martins’s erotic photographs are the expression of an art that the alchemists practiced via their permutations. In his case, the flesh portrayed in the images give us the key to an ars combinatoria on the verge of becoming ars amatoria, where the erogenous zones remain voluptuously in touch even as they appear to whisper lines drawn from the tradition of the timeless poetry of love.

Carlos M. Luis









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Carlos M. Luis (Cuba, 1932-2013). Poeta e artista plástico. Dirigiu em seu país o Museo Cubano. Como ensaísta, publicou Tránsito de la mirada (1991) e El oficio de la mirada (1998), além dos seguintes livros de poesia: Simulacro de lo Absoluto (1954), Entrada en la Semejanza (1965), e Nomadic and Archeological Texts (2009).






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