domingo, 30 de novembro de 2014
SAATCHI ART | Floriano Martins
segunda-feira, 3 de novembro de 2014
RUA IMAGINÁRIA | Ensaio fotográfico
Acesse o álbum | https://www.facebook.com/arcflorianomartins/media_set?set=a.678706358894976.1073741863.100002668551647&type=1&pnref=story
Série fotográfica de Floriano Martins
Outdoors ₢ 2014 ARC Propaganda
Marcadores:
Floriano Martins,
Fotografia,
Surrealismo
sábado, 4 de outubro de 2014
MÁSCARAS | Vídeo & ensaio fotográfico
Acesse o vídeo | https://www.youtube.com/watch?v=1XPauSX3H90&feature=youtu.be
Uma
manhã em Sidney fui visitar a livraria de um museu e ali me encontrou um livro
com reproduções de máscaras tribais daquela região do planeta, em especial
Austrália e Nova Zelândia. A ideia de que algo se modifique ao ponto de que o
mistério de sua existência não se deixe deformar em essência me pareceu o
começo de um bom diálogo com aquelas máscaras que eram a visível ocultação de
uma vida, porém ao mesmo tempo me sugeriam a entrada em um bastidor que me
mostraria de quem se tratava cada figura, desde que eu identificasse seu esconderijo.
De volta à casa de minha filha, no extenso trajeto do ônibus eu refletia sobre
o que seria um símbolo de derivação. Recordei então um livro precioso de minha
adolescência, O ramo de ouro. As
máscaras sugerem transformações, porém apontam na direção de uma ambiguidade.
Não são o que são, mas antes o que esperamos delas. Não exprimem conversão, mas
sim a identificação com um outro modo de ser. As máscaras são uma pedra de
libertação. Guardei comigo por décadas a ideia que James Frazer havia anotado
acerca das máscaras na Oceania. Elas nos limpam a alma. No dia seguinte fiz
fotos de rosto de minha mulher, minha filha e minha neta. Uma abundância de
esgares que deveriam contrastar com a imobilidade de máscaras ritualísticas que
a partir daquele momento comecei a fotografar em vários lugares. Um encontro
entre dois tempos: o da concepção de uma máscara como a transfiguração de um
rosto à qual ela se aplica e a teatralização de um significado que expressa a
mística de sua recepção. Tinha comigo um primeiro estoque de máscaras e rostos
e fui recordando leituras, viagens e outras formas de visitação. No voo de
volta ao Brasil eu matutava acerca da mitologia e suas máscaras. Personagens
como Circe e Medusa são o disparador de uma expansão insaciável de imagens. Uma
tem por tática a transfiguração. A outra, a imobilidade. O mundo foi ficando
seco em seus atributos mitológicos. Uma parte se atem a eles como um código
inquestionável que necessita uma guarda permanente. A outra parte não é menos
vítima, recolhe as sobras, intui o desgaste, vai vivendo. Haverá então uma
máscara por detrás da máscara? Uma essência dentro de outra? Isto resulta
indagar acerca da morada do homem. Quando regressei ao Brasil eu fui buscar
rostos que falassem comigo. E os diversos olhares sobre uma máscara que até
então eu vinha anotando em meu espírito me levaram a buscar outras fontes
mitológicas.
Foram quase duas mil máscaras fotografadas.
Museus, aldeias, coleções particulares. Viagens por uns 20 países. O exagero na
formação de um acervo delas contrapunha-se à economia (ou precisão) na escolha
do rosto certo das sete modelos encontradas. A essas mulheres eu dedicaria a
mágica de sondar outros perfis do mistério. E foram elas que definiram o tempo
de trabalho, desde o primeiro olhar, fotografado em Sidney, até o encontro
final com um rosto na Lagoa do Bonfim, nordeste brasileiro. Em todos eles eu
busquei um metal e fui surpreendido com outra joia. O metal definia-se por uma
mescla de coloração e formato do rosto. A joia se apresentou na forma de um
teatro, a variação estonteante de feições que a câmara capturou. O risco
convertido em dádiva. A vida é de uma imperfeição feliz.
Ao aventurar-me por diversos lugares eu tinha em
mente que o regresso à mesa de edição exigia que todas as pistas fossem
apagadas: máscaras mortuárias, máscaras emblemáticas ligadas às religiões e à
cultura de massas, eu deveria inseri-las em meus rostos de modo a sugerir uma
distinta forma de impacto. O símbolo não é mais uma sinalização do mistério ou
de identificação ritualística. Ele se projeta por imposição de meios. Não é
mais associado ao acaso ou à corrente afetiva entre os seres. Seu grau de
influência - melhor diria interferência - é definido pelo mercado. A minha
ideia então se ocupava de uma restauração do mito em seu estado natural. Ao
mudar uma pedra de lugar descobrimos que as formas não existem em estado puro.
Uma mudança de ângulo será suficiente para deslocar a compreensão do mundo. As
repetições de estratégias que garantem manutenção de poder são orientadas por
essa mesma perspectiva. Temos uma compreensão elíptica da história. Máscaras
formam ou deformam o mito?
O homem não é consciente da extensão de sua queda pela simples razão de que não se distancia de seu pendão cotidiano, jamais compreende a si mesmo como parte de algo. Diante do espelho fantasia uma existência devotada a driblar analogias. Uma operação secreta de deslocamento de conjugações verbais. O que foi, o que é, o que será. A configuração de um mundo pronominalmente desacreditado. Eu nunca nada. Tu nem pensar. Nós jamais existimos. Eles constituem o martelo da paranoia. Até mesmo os diabos menores se divertem com as imagens arrematadas em leilão. O verbo se cansa. Até mesmo as sombras se desgastam. O mito não depende de si.
Os sete rostos que fotografei me ensinaram a
descascar o visível até que um outro mundo deixasse entrever seus anagramas.
Não importa o que sentimos em relação ao outro. Trazemos dentro de nós veneno e
antídoto. Sete mulheres me olharam diante de uma Canon e me surpreenderam pelo
desprendimento de seu espírito. Quando fotografei as máscaras elas mesmas me
diziam com quais rostos queriam dialogar. Eu me entreguei a um mundo de cada
vez, buscando uma configuração distinta para cada mito, uma atualização de
cenário e bastidor, a recuperação de uma sinceridade cênica. Um dia
precisaremos saber até onde estamos dispostos a ir.
O olhar define a arte de um modo enganoso. Quando
passamos de uma escala do mistério para outra, da pintura para a música,
compreendemos algo distinto. O mundo deixa de ser o que vemos e passa a ser o
que ouvimos. O sentido não define a arte. Tampouco é definido por ela. O
caráter inquieto e criativo de cada um de nós é o que ordena a rota alusiva de
nossa existência. Um estado permanente de correspondência entre o que imagino
ser e o que me falta. A forma não existe senão como uma impureza do ser. É o
que expurgo de mim, o gráfico de uma libertação. O cenário cósmico dos símbolos
integra ansiedades, afinidades, com uma força anímica que muitos não dão por
sua atuação. A máscara é um gráfico. Não convidamos o mito a fazer parte de
nossa vida. Não expressa uma realidade em si, mas antes uma rede de conexões
que nos permite definir ou corrigir o modelo apresentado. A máscara é um
desafio para que o símbolo configure nova essência. Uma manifestação da
inquietude do ser.
[2014]
Marcadores:
Abraxas,
Aula de pintura,
Floriano Martins,
Fotografia,
Luz de Riada,
Máscaras,
Surrealismo,
Vídeo
terça-feira, 23 de setembro de 2014
ABISMO MINUCIOSO | Um experimento poético
ABISMO
MINUCIOSO | Um experimento poético
Vídeo com
Floriano Martins
Participações
especiais: Valdir Rocha e Celso de Alencar
Direção e
edição: Pipol
TV
Cronópios | São Paulo, setembro de 2014
Marcadores:
Abraxas,
Floriano Martins,
Pipol,
Poesia,
Surrealismo,
TV Cronópios,
Vídeo
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
PARÓDIA DO CADAFALSO | Estudos de pele
Como se fossem nomes, mas sem uma língua, sobrepostos.
Em todos os sentidos escrevendo a escrita na parede
como pedras inscritas na pedra: tempos sobre tempos.
Manuel Gusmão
1
Toda a criação está
feita de equívocos, exageros, precárias aproximações da realidade, falsas
suspeitas. Acaso haverá algum instinto infalível? Débil o demiurgo a
inclinar-se sobre o detalhe de provas de verossimilhança de suas imagens. Os
melhores poemas, no melhor dos casos, são apenas poemas. Por mais que se mova -
e por vezes algo se move -, a natureza humana aproxima-se de uma pauta maçante
de seres inanimados. Talvez tenhamos que considerar a possibilidade de uma era
em que não criaremos mais nada. Nos despossuímos tanto do surpreendente
que toda a existência já se sente convertida em mera fatalidade. Tal suspensão
do maravilhoso erradica sensibilidade indispensável para cometer equívocos e
exageros. O mundo liquida-se por certo e infalível. De que povoaremos então as
próximas ilusões? A arte nunca tratou de outra coisa. Conviverá acaso com
fantasmas que tenham alguma tendência ao previsível?
O homem já se chamou
eu, nós, nenhum. Perdeu-se entre si e os demais. Julgou sempre o outro. Qual
nome terá agora? Um tamanho desapego moral requer nomenclatura específica.
Ainda não é o momento. O mundo se torna tão razoável que logo será possível
imaginá-lo. Haverá ainda alguém que indague sobre a substância do que se diz?
Triste fim o dos biógrafos. Os visitantes acidentais dirão dessa terra
devastada que não lhes provocou sequer uma profunda melancolia. Está perfeito
que não se possa simplificar mais nada. Esta é uma lição que nos ensina a
natureza ao perder sua criatura deliciosa? Não sejamos tão cínicos.
Regurgitemos espadas e chumaços de cabelos. E sobre o horizonte uma elipse
emburrada negando a compreensão dos artifícios. Mar de tumbas, brilhantes vozes
invisíveis, tudo isso se foi, não ficou uma única metáfora sobre a terra. Os
poetas agora estão felizes. Abolida a sucessão de tempo e espaço, por ali foram
também descontinuidades e diferenças. A arte quando muito pintará a si mesma:
uma natureza morta.
2
Lendo The devil: a mask without a face, de
Luther Link, encontro-me com uma simpática observação, a de que “às vezes a
fonte de uma obra é a própria obra”. A idéia de interpretação está ligada à de
indução e presságio. O sopro de uma delas pode tornar crível a criação, mas não
a desata no sentido de influir no desentranhar-se da mesma.
Quando escrevo sobre
um corpo morto encontrado na escada do prédio onde mora um amigo, não importa
se este corpo corresponde à realidade de meu encontro com ele. O que vemos em
sonho ou no palco é tão parte de nossa vida quanto o que nos anima na própria
carne. Imaginemos de outra maneira a colocação de Luther Link: às vezes a fonte do que sou é o que
realmente sou.
Aceita essa aparente
perversão, indago acerca do corpo específico da criação, tratemos do poema ou
do próprio homem, sendo ele obra de Deus ou não. O corpo leva em si uma queda
de conceitos. Religiões, políticas, filosofias buscam lhe fixar uma ordem,
através da qual ele é apenas um meio e jamais o fim.
A transcendência é a
única tábua de lei de qualquer manifestação humana? O assombro vincula-se a uma
idéia de rejeição, onde estranhar é negar. Se acreditarmos que a obra é
incurável, dada a perspectiva de uma relação intrínseca com o criador, o que
esperar do homem que está sempre a buscar obsessivamente uma sugerida condição
de fonte de si mesmo?
Ao escrever este
livro tive em mente a relação entre corpo humano e corpo da criação e, a todo
instante, me perguntava: a linguagem reside em uma estalagem intemporal ou
profana? Não parece que seja o sublime o que nos liberta, mas antes o convívio
com as formas mais espúrias de comunicação que o homem soletra na própria
carne, no próprio espírito.
Em um entranhável ensaio sobre o terror e a
piedade, diz Marcel Schwob que “a arte consiste em dar ao particular a
aparência do geral”. Os estudos aqui esboçados mesclam piedade e terror como
formas de dedução e sedução dos desígnios e artimanhas da espécie humana. A
idéia de visitação coloca-se sobretudo em um sentido religioso, pois fui sempre
procurado como se lhes pudesse abrandar as dores. As confissões eram dadas, no
maior dos casos, em transe.
Cabe a quem as recebe
aprender a lidar com o imprevisto. Recordo um caso, no século XVI, em que
diante do Diabo disse uma mulher: “estou disposta a te dar minha alma após a
morte, desde que me faças o que desejo”. Ainda não estimo de todo o que me
encomendaram, mas o fato é que não houve caridade alguma na escritura deste
livro.
[2004]
[Texto de abertura do
livro Estudos de pele, de Floriano
Martins. Rio de Janeiro: Editora Lamparina, 2004.]
Marcadores:
Abraxas,
Estudos de pele,
Floriano Martins,
Poesia,
Surrealismo
terça-feira, 9 de setembro de 2014
JORGE ARIEL MADRAZO | Poemas de Floriano Martins
1.
UNA VOZ PERDIDA: RAQUEL
¿Hasta cuándo puedo confiar en tus palabras?
Me pides que busque la salvación en tu nombre,
que desfallezca, aguarde, vague, permita
que me olviden todos. Me ilusiono creyendo en la visión
de tus encantos, y acato atenta tus preceptos.
Para los desengañados, debo abrir amplias fosas.
Y entrego mi cuerpo a aquellos que lo necesiten.
Una vez más padezco, y aguardo, y me vuelvo
nada, un retazo, una sombra perturbada,
hasta que me canse e indague por los siete llantos
de mi alma exánime: ¿un
día me consolarás?
Abro la mano y persigo los rastros de mi destino.
Me extravío allí tantas veces que ya no distingo
a mi único suplicio: ¿tú,
cuándo me consolarás?
2.
LA NATURALEZA MUERTA
Cadáveres en
lágrimas,
¿no hay nada
más inverosímil en tu existencia?
Tres tramos de
escalera antes de la caída,
garabateabas de
memoria unas palabras finales.
¿Con quién
hablabas en tu camino hacia el abismo?
¿Qué voces
heridas y extranjeras
rugían en tu
drama, casi borrachas, casi voces?
¿Será acaso tan
inmensa la eternidad que no podamos encontrarnos en una tarde de sábado?
Silencio
rocoso, enfurecido en su casco carcomido,
¿qué vicio tan
extraño convierte todo en angustia?
Cadáveres
listos para una cena de dolores,
sollozante
cosmogonía reclinada en el vacío, ríos de insectos piojos róbalos muertos
pulgas babosas lentejas podridas latas de aceite -naufragio quemante- herrumbre
de faros, tumbas fluctuantes -¿estupor frente a la sangre de las noches?
Hay una
distancia ya clásica entre lo que piensas y lo que eres, tinieblas de actitud,
bautismo de cruces, sofismas gastados, coro de ángeles, siempre un mismo puerto
de aventureros,
lugar poco
probable para nuestro encuentro.
Más aún cuando
no te rebelas, entre cadáveres remando contra la muerte,
restos de
comida fractura de muletas gordiano de heces -¿de dónde cae el tiempo? -el
verso se quiebra en todo momento
¿Dónde estás?
¿Dónde habitas?
Indago dónde
podrías haber nacido.
Habitualmente
rodeado de cadáveres,
¿tu noche será
la gran industria de los desvalidos?
Metáfora
decaída, cantina de precios exorbitantes, estamos siempre a dos pasos de algo,
pérdidas acumuladas, rutina de miseria soluble y pastel de ansiedades -¿será
éste tu mundo descomunal, tu biblia que todo abarca pero nada percibe en lo
íntimo, pandereta de la joven Esmeralda, mujeres tatuadas a estilete, muchachos
cercenados por no portar armas, un huevo de tortuga del cual escapa un yacaré,
la suprema gloria de la superficialidad, muerte entre la piel y el abismo de
los sentidos, bandejas de bayas y uvas servidas en conferencias de paz,
artistas al vacío, suplentes de alquimistas accidentados en el trabajo,
imbéciles especulativos, cucarachas familiares, durazno pitomba açaí todo de oro,
muerte eterna? ¿será?
¿En qué océano
descomunal te escondes, poeta?
Disfraces: una
amargura telúrica una máscara dionisiaca un barroquismo ululante -ah, manera
formidable de no estar en el mundo.
Un demonio
triste escribe un banal itinerario de arrepentimientos.
Tus cadáveres
ya no te soportan.
3.
EL ABUSO DEL VÉRTIGO
El
coloso en fragmentos me desgarra. La tortura se mantiene en pie.
René Char
Cobijo tu cuerpo en mis manos,
entre rayos de sudor, desfallecido.
La ruina de la belleza (¿querida fealdad?)
es que siempre retorna a sí misma.
¿En qué punto extremo de tu amor
brota la renuncia a la insensatez?
Un cuerpo desamparado me insulta
con su humanidad fuera de lugar
Escombros que se acusan entre sí
por el despreciable vértigo alcanzado.
Avaricia de formas con que osar
el centelleo de mil voces trepidando
en sacrificio, como si la noche, oculta
en la fortuna de cada habla desventrada
fuese la llaga deífica, sol o cenizas.
Evanescente como estás, me abisma
seguir leyendo un torrente de páginas
en la piel blanca y desecha de sentido,
abismo que es el centro de la angustia,
hortaliza victimada por la consagración.
¿Es la memoria un cínico abuso del dolor?
¿De qué está hecha la tragedia de la belleza?
Tambor de voces, relato de gozos, luz
faltante sobre el escenario en ruinas.
Placer de caídas que nos alimentan.
Designio, veneno o ruego de plagas.
Sé que te pierdo ahora, en mis brazos
no tengo sino el fulgor de tu muerte.
Lo que dejo de ser se tritura a sí mismo,
suplicio que acentúa la miseria humana,
indicios de pérdida albergan disfraces.
¿De qué muere algo muy dentro de nosotros?
Anuncio y sigilo, odio y amor, pequeña
o gran muerte, en intervalos o no.
Cómo dolía en ti el verbo imposible,
conjugar el dolor en vicios de lenguaje,
rehacerte lacerando tiempo y espacio.
No quiero que mueras en pedazos.
El vacío es húmedo, colmado de sí mismo.
Dios no muere de odio. Menos aún
se agota el hombre en su orgullo.
La refutación de la muerte está en su dolor,
como la negación de lo que nos contradice.
¿De qué mueres? Todos sabemos de la bala
que tu cuerpo recibió en mi lugar.
Odio o aprobación, lo anunciado se dio.
Desnuda y linda como estás, ahora muerta,
odio perseguido por el azar, gólgota
ajustándose a nuevas formas de éxtasis,
no veo sino tu cuerpo, inactivo
en la oscuridad que lo ilumina, chorro
de brea en la viscosa lámpara del destino.
"¿Qué hubo?", preguntarían, sin duda.
Muerta a tiros cuando al entrar
en una farmacia, nos encontramos
con ese "¡al suelo!", y mi negativa.
4.
UNAS VESTIMENTAS
Paños desnudos.
Ninguna imagen
sangrando en la piel
de tejidos
listos para la caricia.
Recito esa
desnudez con un par de alas.
Un demonio
agachado
pegando sus
labios a los míos.
De donde tú me
ves, yo sería un arroyo de huesos,
calcinado
deleite de tus almas:
unas pocas, las
que no supieron
preservar el
horror que las anticipa
y comprende.
Rostros
engordados en ceremonias...
¿Y cómo te
ubicas, demonio,
mordiéndome los
senos, cómo te ubicas?
Un mirar para
escoger huesos.
Carbones
astutos y conocedores de la fábula.
Mira bien lo
que traigo conmigo:
este cuerpo
menguado en débiles lunas.
¿Preparas una
piel para mi?
Dame tus
cuchillos, espolones, cuernos,
la punta
imperfecta de tu falo.
Ves cómo me
hago en mil muslos,
viscosos como
cebos, y todos deletrean
la caída que
anuncias.
Los paños
sobre el vacío,
desnudos.
Equilibrio
derrumbado hacia el suelo,
rostros
deshechos de víctimas que ya no alcanzan el ofertorio, el pie de un dios
hallado en excavaciones por donde me consagras,
puto demonio,
por donde
me despedazas
deseosa de tu salud.
Mi cuerpo en
astillas, santuario decrépito
de tu
perversión,
cascos
arañándome el tejido de la memoria, sí,
un mínimo dolor
recorre procedencias insospechadas,
y sabes cuánto
me dolía tu abundancia,
el pote que
indicas y, ansiosa, me lanzo a buscar allí la respuesta para el afligido
cultivo
de dolores
por todo mi
cuerpo.
Cargo conmigo
todas las formas
con que me
atacas.
¿Qué máscaras
perpetuamos: las mías, las tuyas?
Mis labios te
queman la piel.
Aceites
encendidos mientras nos deshacemos.
Paños como
papiros, inscripciones invisibles que enseñan a mantener caliente la cabeza de
un dios muerto.
Desnudos.
Con la medida
del infierno en cada pliegue
del tejido de
que estamos hechos.
5.
LOS PERGAMINOS
Estás en tu
ausencia.
Ni cerca ni
distante, en camino al bien y al mal.
Tampoco importa
lo que te espera.
Ningún dolor
mal afirmado.
Formas
despedazadas en el vientre y en la llama de un mirar perdido.
Apenas formas,
debilitadas mas no del todo ajenas.
Evidencias que
comunican una escritura sacrificial.
Lugar sagrado
adonde van a dar todas las voces en que confías.
Templo o
túmulo: abismo, multitud, destierro.
Versos se
escurren entre lamentos sinuosos, vértigos de otoño.
Lo que escucho,
lejano, es a mi padre arrancado del túmulo.
La vida
reiniciada en cada muerto.
Los amores
perdidos, vaciando casi todos los límites del mirar.
Lo más
profundamente irreparable, lo inconcluso entre derrames de enigmas, encrucijada
de vómitos de lo que es apenas temor o insatisfacción,
nada,
nada está tan
presente en ti como tu ausencia.
La vida,
sosteniéndose apenas con su sastre de ilusiones.
Rostros
desconocidos surgidos en sueños y cenas, sin que te des cuenta de que son todos
tuyos.
Y todo lo que
buscabas era un falso reposo.
¿Qué valores
dar a lo que apenas escrito pierde sentido, a lo que se fragmenta sin noción de
qué se le opone, a esa maraña de imágenes desistiendo de la risa y el temblor?
Donde estás
nunca serás.
El destino
siempre conduce a la pérdida.
Un canto como
una escena dislocada en el tiempo.
El infortunio
como el reventar de una alegoría: el hombre no cabe en lo que posee.
Para morir
escoge una camisa limpia.
Anotaciones de
un incierto desprecio por la especie.
¿Quién lo
despertará para la muerte debida?
Ruidos de
sombras negadas, el cadáver hechizado
del que hablaba René Daumal, perfiles de cenizas y estatuas arrepentidas,
carnes estalladas por ausencia de labios, desbordarse, desbordarse, rezaba la
inscripción en la entrada del pub,
mujeres dispersas como hierba de noche, hombres tontos adictos a sí mismos;
luego, el maravilloso fin de todas las cosas: aplazarse.
No estás sino
en lo que niegas.
Suplicio
guardado como un as en la manga.
Todos pasamos
por aquí muchas veces, se repiten las imágenes y no hay gracia, ya, en creerse
iluminado o expatriado.
Cualquier forma
precaria puede ser fuente de algún desvarío.
Al perder la
noción de la caída, de nada vale la avanzada edad.
Las formas
hablan con lo que son, saben que no deben jamás ignorarse: he ahí cómo perciben
que las mutaciones son una afirmación de principio.
¿Dónde estás,
ahora?
Lo que concluye
es lo que no se reconoce.
Como abrimos un
nuevo hueco entre los hijos crecidos, la ducha esponjosa del hábito, la secreta
envidia de ínfimos detalles en la vida de los otros.
¿Existirá
siempre un recuerdo?
Camino al
infierno, ya en la última vértebra, siempre alguien indaga sobre los miserables
planes del desorden,
el inviolable desorden con una voz desesperada al que se
refería Gui Rosey antes de desaparecer, tragado por tal inquietud.
Un desconfiado
método de la armonía.
Lugar inexacto
donde todo se contempla y raramente se completa.
¿Qué hay de más
en tus versos, poeta?
Esa pobre vida
incompatible será siempre la misma.
No es tuya,
simplemente no es.
Tu lengua
recorre las sílabas mejores.
Un lado y otro de las manos, habituados a reanimar
sufridas metáforas.
Un mar
retraído, una espléndida chispa de tu culo, brote de intangible orgullo de una
memoria de gozos, idas y venidas en labios violentos,
llamas,
como me llaman
ojeras tensiones excesos.
El flameante recurso
con que te agotas.
Los espejos se
engañan en el exceso de fidelidad.
Nada está
exactamente como está.
Ni siquiera las
pérdidas, de cuanto hay en mí de
innumerable.
Con todo, no
tengo tiempo para arrugas,
el infierno
deberá hallar otra manera de hacerme una visita.
6.
SI LA NOCHE CAYERA
¿No te
renuevas?
Un sentido
sibilino evocado,
la obsesión por
el misterio que recorre la noche en harapos, ausente de sí o al menos tomada
por lo que no comprende,
es así que nos
damos las manos,
la voz de Paula
Cole en el concierto de Peter Gabriel,
en tus ojos, en tus ojos, me recuerdas
que Nerval decía a George Bell que se nutría de su propia esencia y no se
renovaba.
Somos
subversivos patéticos o lánguidos apasionados,
dopados por las
comodidades del registro civil,
sudores
enojosos, un devaneo cartesiano,
nada que nos
eleve al supremo nivel de metáfora alguna.
¿A qué temes en
tu paseo nocturno?
¿El drama de la
noche será tan compacto voraz penetrante como la idea de que cruzas despierta
delante de todo?
¿No abrirías
una ventana en tu piel?
Vista nocturna,
tarjeta postal, escena perdida de un film,
¿lees todavía
mi cuerpo en libre asociación?
Tenemos sexo
con los hijos y amigos, nos sentamos en un bar para grandes carcajadas
nocturnas, lo auspicioso no necesita interpretación,
en tus ojos,
asombros florales tomando forma humana, el libro que se lee a sí mismo
consciente de la existencia de otras páginas,
garabatos de un
dilema fatídico,
nunca supimos
lo que ocurrió en realidad.
Un mito
cualquiera se agita,
tú eres mi
gozo, seré tu inmensidad.
El arreglo
floral sobre la mesa nos dice que la noche insiste en recuperarse.
El verso cae
sobre el paño.
¿No te
renuevas?
¿Quién hace la
pregunta?
"El
desánimo ha escrito versos mejores que la alegría de vivir". Esto se dice
en todo instante a un corazón que se siente traicionado. Páginas de desaliento,
rostros sofocantes, no eres nada, tú no eres nada y aún así te amo,
oh infierno
cortés, dinastía de sentidos objetivando algo,
el amor sigue
siendo toda la intransigencia posible,
el golpe menos
artificial del ser,
el abuso
central de nuestras limitaciones.
Al menos, si la
noche cayese yo podría abrir tus brazos de un extremo al otro y colgarte de
ella, lamiendo tu cuerpo en negación de todo sacrificio, hijos, sexos, planes,
bendiciones,
sudores, financiamientos, mi lengua dando cuenta de tus sabores; la noche, la
noche no es nada, Nerval, el mundo cae sobre nosotros el día entero,
amo y desamo a
toda hora, lo que en mí hay de más mediocre no espera ya la noche para
manifestarse,
no vamos a
ninguna parte, dopados por laudos inventados, acuerdos de sindicatos,
votaciones en la cámara,
tu cuerpo
suspendido y sin sentido, porque ya no sé qué hacer con él,
ya no sé qué
cosa escribir.
¿De qué muere
exactamente la fe en un cuerpo?
¿Del anuncio de
un método? ¿De una sospecha de fraude?
7. EL
OFERTORIUM
La pierna dulcemente erguida sobre la página:
un verso así no escribes sin
mi gozo
Sabía cómo marcar las frases donde retornar.
Los dos se buscaban entre enigmas y risas,
devolvíanse mutuamente lo que iban encontrando:
restos del otro, pequeñas sombras dispersas.
Te abro todos los labios de
la casa. ¿No ves allí,
en el balcón, una parte de
ti ya olvidándose?
La voz podía ser entregada a cualquiera de ellos,
sorprender a la noche en un capítulo
de espasmos: ojos garabateándose, imágenes
saltando del sexo de ambos, toda ella, todo él,
todo para encontrarse y decir: ya estuvimos.
Sólo el amor nos revela aquello que perdemos.
[Tradução de Jorge Ariel Madrazo. Caricatura de Floriano Martins, por Klévisson Viana. 2008.)
Marcadores:
Abraxas,
Floriano Martins,
Jorge Ariel Madrazo,
Poesía,
Surrealismo,
Tradução
LUIZ LEITÃO | Floriano Martins poems
MYTH’S BELOVED
DISGUISE
There was a silence there, lost in
the middle of the night.
Perhaps between the cracks in time’s
ridge.
Or a swollen scar hallucinating the
past lost.
One never knows how much pain
rebounds.
Suffering is in the boundary of
conscience.
Some cities know more than others
how to abandon themselves.
Lights were as if night barely
slept.
The stairs were reluctant to show
the way to those who have proven better readers of urban afflictions.
Archeology tells us about
subterranean trails, stone, musk and water that shelter certain unsuspected
seals of history.
Everything makes us believe past
unveils when we dig beneath.
Yet there are cities that hide their
history upstairs.
A self-abandonment embroidered in
heights, covered up by the earthen agitation of urban makeup.
Plain cities, and without hereditary
excavations.
Who knows my, maybe yours, certainly
someone’s city.
And that deforest its essence like
weed.
Cities tormented by the refuse of
their own shadow.
Here night never sleeps.
It recapitulates the silence to
which it feels imposed.
This disconcerted emptiness of the
youngest ruins of history.
Air ruins, whose stairs myth tries
to disguise.
Possibly remains of some sin we
ignore.
WOMB OF
RUTH UNDERWOOD
The streets are intersected with
eyes of asymmetric angles chewing the essence of those who pass by.
A frantic palpitation of symbols
makes everyone fall in the fugacious detail of nostalgia, gathered under the
shade of memory, blaming sunset for being melancholic, cathedral for being
rectilinear, abyss for being inaccurate.
The most single notes repeat.
There are chords which know how to
spell the distinct image in each bridge or stage.
It’s not the same as being an art
catcher or a street one.
By there, always when someone runs,
is never reached by the name.
When you fold the notes landscape
quakes.
The skin dedicated to the
transcription of delirium.
It’s when one hears the solidity of
likeliness, the delighted plans of all we write only by glance, the vital spell
at everyone’s range.
A NIGHT IN SYDNEY
How could I have painted the house
with such a huge contrast of scenes?
Furniture whispering by the corners,
a fever of windows collected to their inner tremble, taps committed with
keeping silence for long eternities.
I had forgotten everything that
night.
I tried at least to recollect the
name of that woman lying by my side.
Descending to the kitchen for some
water I saw how my steps on the steps were already there, previously to me.
All over the house the signs
multiplied in a same enigma: everything I tried to do I myself had already
done.
From the window facing the yard I
could see buckets of paint, sandpaper, brushes, the stairs bathed in evidences.
Lips frayed of some twilight, wine
spilled on the carpet, Ben Webster still played Come rain or come shine.
Night immerse in scenic silence.
Her body multiplying in characters
which are codes of emptiness, painful shades, restless figures of dreams I
could never understand.
The house is some kind of souls
sewing, with its stage of paints and architecture of reflexes.
I’m already not anywhere, but she
hurts me as if she were all my life.
ANJA LECHNER’S WRISTS
Your body receives on your bed each
night a distinct verb.
Little household tasks protect the
day from other subjects.
I sit back on the worn out abyss’
shade counting your kisses.
The first one shows me the secrets
of powder.
Another makes me believe I can fly.
Like silent defiance are the small
faces buoying in each look’s amazement.
Signs of disorder that life elects
in its fugacious transit through the prosperity of time
Words with which I dig the
invisibility of your figure.
Silence we shelter beside them so
that they preserve what they know about us
The pendulous movement of your
kisses stresses the labyrinth they weave inside and outside my lips.
A Brazilian describes the desires’
images like voracious amulets.
I re-baptize your rites like who
unveils the virtues of storm.
Your body sophisms the disguises of
the night with its verbal spectra.
Do you recognize the indecipherable
lust of each pantomime?
Do you still recall the name with
which I pretended to be you?
I myself provided to forget, so that
you had no way back.
A NIGHT IN SANTO DOMINGO
The night reproduces itself in my
passing eyes.
We don’t let it sleep, so that it
accompanies us by the wrecked corners, myth disguised in illegible drafts,
petals grimy of memory of self forgotten memory.
Loneliness escaping through the
window with its small transfigured riots.
Don’t forget of anything tonight, so
that we don’t have come back here tomorrow.
Give me your lips one last time
before they vanish from my vision’s ceilings.
Sweaty furniture while we improvise
new sites in absentia of gravity.
When I saw your body learning how to
fly in a Sky of aquarelle brushed up its extensive maritime architecture and
clouds danced like trees in the wind.
It was when I unveiled the pain of
this Word made up of many falls.
The same that now multiplies in my
eyes that cross an endless corridor which leads from an horizon to another in
the wakeful hours we get lost.
I recognize in silence certain
relics that cross fate’s sill, whose language, always legitimate, confides a
defiance after another.
Wherever you are, don’t reply me.
MEMORY OF CONSUELO BENEVIDES
It takes too long to know where pain
keeps its bones.
Clip the verbs, recognize the best identified voices with each
conflict, whisper small behavior changes.
The faces were resigning to a
theatrical expression.
I didn’t see you otherwise than
slices of shades, vestiges, details of memory, were I used to go scribbling my
pain.
When I saw the first sign o f your
life, I had already given up being
human.
I was recognizing your being by marcs.
Much of what came to me confused
with what I stated to imagine as being my son.
I don’t believe we have left each
other anything in manuscripts.
Many times what we recover in life
has to do with your abyssal sense of imitation.
I will never know if you are my
lost son
or the idealized image of the same I have just found in a lot of replicas.
We imitate the future.
How to believe in past?
It doesn’t matter.
You are here in some place.
I’m not
yet anywhere.
A NIGHT IN TENERIFE
I wrote down your name on a leaf
lost from the dream.
The night wakes me up telling
stories which some day would pass here.
The Moon laughed as a lover hidden
under the bed sheet waiting for danger to pass.
While I waited to read my poems I
realized the world didn’t pass there.
Images self projected in dissonant
repetition: here, there, love, poem…
Only a verb moved: to pass & to
pass & to pass.
Full territory of reticence, when I
touched your skin I unveiled a night alien to time.
The poems lost motive.
Your body gained a crafty measure of
eternity.
Until today I don’t know where I
went to since I said goodbye to you.
The fact is that everything passes
and your island doesn’t differ from other feelings in the rest of the world.
The Moon pointed the fountain in the
centre of the square and recorded that something on the way to Brazil passed
by and eventually stayed.
The day uses to forget many things.
A greenish stone celebrates the
volcanic night in your body that we lie down to foresee the navigation chart of
the fountain.
We didn’t go anywhere.
We were perhaps the only night in Tenerife when nothing passed there.
[Traduzidos por Luiz Leitão. Perfil de Floriano Martins, gravura de Fabio Herrera, 2004.]
Marcadores:
Abraxas,
Floriano Martins,
Luiz Leitão,
Poesia,
Surrealismo,
Tradução
Assinar:
Postagens (Atom)