segunda-feira, 8 de setembro de 2014

DUAS MENTIRAS | Lançamento e leitura




Os mortos se escondem por toda parte em nós.
Cobrejam quando o assunto é terreno e lavram
suas asas quando o vento lhes é benfazejo.
Afinal já estão mortos e de nada podem valer.
Que ajam assim os vivos já é outra doutrina,
tornada a imaginação um distúrbio e a crença
uma encenação desprovida de toda originalidade.
Numa noite assim teu corpo desce sobre o meu
e a minha nudez é tanta que a tens com tudo,
e é tão bom que me penetres, que tuas árvores
sejam pássaros e teus casebres nuvens, e a flor
de teu sexo seja afável no meu e os mortos
não caibam em cena sequer na memória, pois
eu verdadeiramente te amo, e te quero bem vivo.


[Lúcia Rosa apresenta o projeto editorial Dulcineia Catadora em noite de lançamento de um de seus títulos, Duas mentiras, de Floriano Martins. Ela própria, em seguida, lê o poema # 22 deste livro. São Paulo, abril de 2008.]



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