Os mortos se escondem por toda parte em nós.
Cobrejam quando o assunto é
terreno e lavram
suas asas quando o vento lhes é
benfazejo.
Afinal já estão mortos e de
nada podem valer.
Que ajam assim os vivos já é
outra doutrina,
tornada a imaginação um
distúrbio e a crença
uma encenação desprovida de
toda originalidade.
Numa noite assim teu corpo
desce sobre o meu
e a minha nudez é tanta que a
tens com tudo,
e é tão bom que me penetres,
que tuas árvores
sejam pássaros e teus casebres
nuvens, e a flor
de teu sexo seja afável no meu
e os mortos
não caibam em cena sequer na
memória, pois
eu verdadeiramente te amo, e te
quero bem vivo.
[Lúcia Rosa apresenta o projeto editorial Dulcineia Catadora em
noite de lançamento de um de seus títulos, Duas
mentiras, de Floriano Martins. Ela própria, em seguida, lê o poema # 22
deste livro. São Paulo, abril de 2008.]
Nenhum comentário:
Postar um comentário