Eu beijo o
teu corpo espalhado pela casa.
Um prato para
o umbigo, as pernas aquecidas em fogo brando, o vilarejo das nádegas atônito à
própria geografia.
Profusão de
sonhos entalhados na carne.
Como esquecer
o recorte de tuas silhuetas, as minúcias de orgasmos irradiados por todo o
lugar?
A memória
ilude a todos e faz com que os móveis percam sombra, vertigem e significado.
Tateio a
respiração do que somos, pequenos vultos desabrigados, miniaturas fora de eixo.
Quantas
escadas mudam de lugar em suas ânsias de subir ou descer?
Vasculho cada
beijo à procura de teu corpo.
Por vezes
desperto no meio da noite e ao tropeçar nas pernas da escuridão julgo haver
recolhido todos os fragmentos de teu amor.
A imagem é
uma fábula, um mito, uma desordem existencial, a mais precária das realidades.
Mas quantos
eu sou ali em meio àquele acidente noturno para duvidar de tua existência?
Um pássaro
morto na soleira do abismo, o vaso de flores deteriorando na lembrança, o
cômodo lacrado com sua recusa a qualquer credo ou luz.
Não importa o
beijo, teu corpo é sempre outro.
Cresce o mar
no olho de uma semente.
Uma mão
impressa na pedra é a crônica de nossa passagem pela terra.
Escadas e
janelas discutem sobre o que fizemos para chegarmos tão perto do fim e não
perecer.
[Poema, fotografia e vídeo, de Floriano Martins.
Voz de Elaine Guedes | 2013 ARC Edições]
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