segunda-feira, 8 de setembro de 2014

UMA NOITE EM LUGAR NENHUM | Poema e vídeo



Eu beijo o teu corpo espalhado pela casa.
Um prato para o umbigo, as pernas aquecidas em fogo brando, o vilarejo das nádegas atônito à própria geografia.
Profusão de sonhos entalhados na carne.
Como esquecer o recorte de tuas silhuetas, as minúcias de orgasmos irradiados por todo o lugar?
A memória ilude a todos e faz com que os móveis percam sombra, vertigem e significado.
Tateio a respiração do que somos, pequenos vultos desabrigados, miniaturas fora de eixo.
Quantas escadas mudam de lugar em suas ânsias de subir ou descer?
Vasculho cada beijo à procura de teu corpo.
Por vezes desperto no meio da noite e ao tropeçar nas pernas da escuridão julgo haver recolhido todos os fragmentos de teu amor.
A imagem é uma fábula, um mito, uma desordem existencial, a mais precária das realidades.
Mas quantos eu sou ali em meio àquele acidente noturno para duvidar de tua existência?
Um pássaro morto na soleira do abismo, o vaso de flores deteriorando na lembrança, o cômodo lacrado com sua recusa a qualquer credo ou luz.
Não importa o beijo, teu corpo é sempre outro.
Cresce o mar no olho de uma semente.
Uma mão impressa na pedra é a crônica de nossa passagem pela terra.
Escadas e janelas discutem sobre o que fizemos para chegarmos tão perto do fim e não perecer.



[Poema, fotografia e vídeo, de Floriano Martins. Voz de Elaine Guedes | 2013 ARC Edições]



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