segunda-feira, 8 de setembro de 2014

PENÉLOPE | Poema e leitura






As cidades se fecham em mapas descartáveis,
jazigos turísticos, onde sempre negas meu beijo.
Tudo em vão, se a dor desconhece seu nome.
Agendas do acaso, retóricas de um futuro gasto.
Uma noite deixamos o abismo dormir conosco,
estranho vulto cuja vida o cotidiano rejeita,
embora não deixe de saltar de um ponto a outro
de nossos trapos alegóricos, sua renda alquímica.
As cidades, no entanto, recusam a ideia do beijo
como uma túnica refeita de mitos que não retornam.
Beijo-te e as ruas não vão a parte alguma.
Soletram percursos recordados em teu íntimo.
Amigam-se da memória ardilosa e suas proezas,
como deusas decorando um mantra sacrificial.



[Floriano Martins en la Casa de Poesía Silva - Bogotá, 2009. Acompañado en la lectura por la poeta mexicana María Baranda.]



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