ALL’OMBRA
DELL’ORIGINE
Chi siamo? I magnifici resti della
specie,
sacerdoti di rovine, vaste e frustranti.
Proseguiamo bagnati di cenere e fetide
memorie, in comunione con il dolore instancabile.
Sommiamo alle migliaia i lamenti delle divinità,
feretro di pellegrini, morbido raccolto
di cadaveri. Nell’intera isola
nulla si rivela
che non sia la gran catarsi del vuoto.
Tutti i ricordi sono allucinanti, non c’é luogo dove
sia possibile dimenticare la sofferenza e i dolori
umani.
Sanguina la quercia
dei celti, l’albero cosmico
dei sumeri, la bignonia
del popol-vuh e il disprezzato
ficus-beniamino del nordest brasiliano. Decadono
le città con la ritrazione dei loro alberi
Solamente
a Nergal toccherebbe l’amore della sua Eresquigal.
Siamo
i magnifici stracci inzuppati
di
olio e fango. Invocati, una volta ancora saremo
la
nascita e la caduta. Abissi discontinui.
À SOMBRA DA ORIGEM
Quem
somos? Os magníficos restos da espécie,
sacerdotes
de ruínas, vastas e frustrantes?
Prosseguimos
banhados de cinzas e fétidas
memórias,
em comunhão com a dor infatigável.
Somamos
aos milhares os lamentos das divindades,
féretro
de peregrinos, mórbida colheita de cadáveres.
Na
ilha inteira, nada se revela que não seja a grande catarse
do
vazio. Todas as lembranças alucinam,
não
há onde esquecer o sofrimento e as dores humanas.
Sangra
o carvalho dos celtas, a árvore cósmica
sumeriana,
o jícaro do popol-vuh e o desprezado
fícus-benjamim
do nordeste brasileiro.
Decaem
as cidades com o degredo de suas árvores.
Somente
a Nergal caberia o amor de sua Eresquigal.
Somos
os magníficos trapos encharcados
de
óleo e argila. Invocados, uma vez mais seremos
o
nascimento e a queda. Abismos descontínuos.
REGNO
DI VERTIGINI
A Socorro Nunes
Il tuo corpo e il mio
cadendo sul mondo:
notte sacheggiata da una
crovana di lampi.
Prede del tempo che
fugge dalla sua fonte,
minando
abissi alla deriva, perdite fluttuanti.
Il
volto deformato della bellezza che le rovine coltivano,
linguaggio
smarrito al voler entrare in sè.
Il tuo corpo e il mio
nella loro caduta più segreta.
Un
labirinto che fosse un deserto e un dio
conscio che da lì non
c’é ritorno. Fuga di tenebre.
I travestimenti fatali
della memoria di fronte all’infinito.
Ombre non trattenibili
che cadono sul mondo.
Il tuo corpo e il mio:
quello che resta d’uno nell’altro.
REINO DE VERTIGENS
A Socorro Nunes
Teu corpo e o meu caindo
sobre o mundo:
noite saqueada por uma
caravana de relâmpagos.
Despojos do tempo
foragido de sua fonte,
minando abismos à
deriva, perdas flutuantes.
O rosto deformado da
beleza que as ruínas cultuam,
linguagem extraviada ao
querer entrar em si.
Teu corpo e o meu em sua
queda mais secreta.
Um labirinto que fosse
um deserto e um deus
ciente que dali não há retorno.
Fuga de trevas.
Os disfarces fatais da
memória ante o infinito.
Indetíveis sombras
caindo sobre o mundo.
Teu corpo e o meu: o que
resta de um no outro.
DAVANTI AL FUOCO
Mio padre invecchiato davanti al fuoco,
albero non più protetto tremante.
Oh dolce tenebra, si estingue la tua età
per sempre? Quale oscuro cantico
separa l’uomo dal giubilo della sua morte?
Terra e uomo davanti al fuoco, nebbia
la voce delle ceneri. La lingua non può
contenere la sua immagine sparsa in calce.
Mio padre, con il suo corpo pesante estraneo
al tempo, sembra aver denudato
l’inferno, appreso le parole con le quali
l’abisso si fa scarnificare. Circondato
da avida quiete, il fuoco, eterno suddito
di empietà, sostiene lo sguardo del morto.
DIANTE
DO FOGO
Meu pai envelhecido
diante do fogo,
árvore não mais guardada
em tremores.
Oh doce treva, tua idade
se extingue
para sempre? Que obscuro
cântico
afasta o homem do júbilo
de sua morte?
Terra e homem diante do
fogo, névoa
a voz das cinzas. A
língua não pode
conter sua imagem derramada
em cal.
Meu pai, com seu pesado
corpo alheio
ao tempo, parece haver
desnudado
o inferno, aprendido as
palavras com que
se faz o abismo
descarnar. Rodeado
por ávida quietude, o
fogo, eterno súdito
de impiedades, rege o olhar do morto.
ECATE
Dimentichiamoci del mito, che siamo
cento e che tutto é dietro al nome.
Ci sdraiamo sul dorso di Dio.
Le sue immagini deformi sfogliamo,
la nobiltà rassegnata delle sue creature.
Siamo tutte lì in mezzo alle pagine
di una anonima scrittura, tranquille.
Si inclina il verbo di fronte alla soglia
delle offerte: il culto deforma il mito.
HÉCATE
Esquecemos o mito, que somos cem
e que tudo esteja por
trás do nome.
Recostamo-nos sobre o
dorso de Deus.
Suas imagens disformes
folheamos,
a nobreza resignada de
suas criaturas.
Estamos todas ali em
meio às páginas
de uma anônima
escritura, quietas.
Curva-se o verbo diante
do alpendre
das oferendas: o culto deforma o mito.
IL
NOTAIO
Un nome per le parti del tuo corpo che emettono fuoco,
un altro per il volto che si copre dalle tue fiamme.
Un nome che sia per la guida delle tue gambe
fluttuanti,
e un altro ancora per i campi che evitano la tua
dimora.
Tutti saranno felici dei loro nomi. Certi con più d’uno,
altri sul punto di perderlo. Il nome li rende quasi
perfetti.
Annotami un dio senza nome e mi incaricherò io di
ciò.
Saranno belli o tristi, bendati o portati dalla corte,
violenti o angosciati. C’é
chi si sente unico
e si giudica rinato ogni volta che il suo nome é
pronunciato.
Perchè essendo uguali, i nomi sono anche diversi.
Li distribuisco pieni di illusioni. Favole o decreti,
rubrica di tutto quello che siamo o rifiutiamo. Non ti
protegge
l’ inferno dal nome certo, veste con la quale entri in
scena.
O
TABELIÃO
Um
nome para as partes de teu corpo que emitem fogo,
outro
para o rosto que se guarda de tais chamas.
Um
nome que seja para o guia de tuas pernas flutuantes,
e
outro mais para os campos que evitam tua morada.
Todos
estarão felizes com seus nomes. Uns com mais de um,
outros
a ponto de perdê-lo. O nome os torna quase perfeitos.
Aponta-me
um deus sem nome e disto me encarrego.
Serão
belos ou tristes, enfaixados ou traídos pela corte,
violentos
ou angustiados. Há os que se sentem únicos
e
julgam-se renascidos a cada vez que o nome é pronunciado.
Mesmo
sendo iguais, os nomes também são distintos.
Distribuo-os
carregados de ilusões. Fábulas ou decretos,
rubrica
de tudo o que somos ou rejeitamos. Não te protege
o
inferno do nome certo, traje com que entras em cena.
[Tradução ao italiano, por Silvia Favaretto. Caricatura de Floriano Martins, por Valber Benevides. 2007.]
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