terça-feira, 9 de setembro de 2014

SILVIA FAVARETTO | Poesia di Floriano Martins


ALL’OMBRA DELL’ORIGINE

Chi siamo? I magnifici resti della specie,
sacerdoti di rovine, vaste e frustranti.
Proseguiamo bagnati di cenere e fetide
memorie, in comunione con il dolore instancabile.
Sommiamo alle migliaia i lamenti delle divinità,
feretro di pellegrini, morbido raccolto
di cadaveri. Nell’intera isola nulla si rivela
che non sia la gran catarsi del vuoto.
Tutti i ricordi sono allucinanti, non c’é luogo dove
sia possibile dimenticare la sofferenza e i dolori umani.
Sanguina la quercia dei celti, l’albero cosmico
dei sumeri, la bignonia del popol-vuh e il disprezzato
ficus-beniamino del nordest brasiliano. Decadono
le città con la ritrazione dei loro alberi            
Solamente a Nergal toccherebbe l’amore della sua Eresquigal.
Siamo i magnifici stracci inzuppati
di olio e fango. Invocati, una volta ancora saremo
la nascita e la caduta. Abissi discontinui.


À SOMBRA DA ORIGEM

Quem somos? Os magníficos restos da espécie,
sacerdotes de ruínas, vastas e frustrantes?
Prosseguimos banhados de cinzas e fétidas
memórias, em comunhão com a dor infatigável.
Somamos aos milhares os lamentos das divindades,
féretro de peregrinos, mórbida colheita de cadáveres.
Na ilha inteira, nada se revela que não seja a grande catarse
do vazio. Todas as lembranças alucinam,
não há onde esquecer o sofrimento e as dores humanas.
Sangra o carvalho dos celtas, a árvore cósmica
sumeriana, o jícaro do popol-vuh e o desprezado
fícus-benjamim do nordeste brasileiro.
Decaem as cidades com o degredo de suas árvores.
Somente a Nergal caberia o amor de sua Eresquigal.
Somos os magníficos trapos encharcados
de óleo e argila. Invocados, uma vez mais seremos
o nascimento e a queda. Abismos descontínuos.


REGNO DI VERTIGINI

A Socorro Nunes

Il tuo corpo e il mio cadendo sul mondo:
notte sacheggiata da una crovana di lampi.
Prede del tempo che fugge dalla sua fonte,
minando abissi alla deriva, perdite fluttuanti.
Il volto deformato della bellezza che le rovine coltivano,
linguaggio smarrito al voler entrare in sè.
Il tuo corpo e il mio nella loro caduta più segreta.
Un labirinto che fosse un deserto e un dio
conscio che da lì non c’é ritorno. Fuga di tenebre.
I travestimenti fatali della memoria di fronte all’infinito.
Ombre non trattenibili che cadono sul mondo.
Il tuo corpo e il mio: quello che resta d’uno nell’altro.


REINO DE VERTIGENS

A Socorro Nunes

Teu corpo e o meu caindo sobre o mundo:
noite saqueada por uma caravana de relâmpagos.
Despojos do tempo foragido de sua fonte,
minando abismos à deriva, perdas flutuantes.
O rosto deformado da beleza que as ruínas cultuam,
linguagem extraviada ao querer entrar em si.
Teu corpo e o meu em sua queda mais secreta.
Um labirinto que fosse um deserto e um deus
ciente que dali não há retorno. Fuga de trevas.
Os disfarces fatais da memória ante o infinito.
Indetíveis sombras caindo sobre o mundo.
Teu corpo e o meu: o que resta de um no outro.

DAVANTI AL FUOCO

 Mio padre invecchiato davanti al fuoco,
albero non più protetto tremante.
Oh dolce tenebra, si estingue la tua età
per sempre? Quale oscuro cantico
separa l’uomo dal giubilo della sua morte?
Terra e uomo davanti al fuoco, nebbia
la voce delle ceneri. La lingua non può
contenere la sua immagine sparsa in calce.
Mio padre, con il suo corpo pesante estraneo
al tempo, sembra aver denudato
l’inferno, appreso le parole con le quali
l’abisso si fa scarnificare. Circondato
da avida quiete, il fuoco, eterno suddito
di empietà, sostiene lo sguardo del morto.


DIANTE DO FOGO

Meu pai envelhecido diante do fogo,
árvore não mais guardada em tremores.
Oh doce treva, tua idade se extingue
para sempre? Que obscuro cântico
afasta o homem do júbilo de sua morte?
Terra e homem diante do fogo, névoa
a voz das cinzas. A língua não pode
conter sua imagem derramada em cal.
Meu pai, com seu pesado corpo alheio
ao tempo, parece haver desnudado
o inferno, aprendido as palavras com que
se faz o abismo descarnar. Rodeado
por ávida quietude, o fogo, eterno súdito
de impiedades, rege o olhar do morto.


ECATE

Dimentichiamoci del mito, che siamo
cento e che tutto é dietro al nome.
Ci sdraiamo sul dorso di Dio.
Le sue immagini deformi sfogliamo,
la nobiltà rassegnata delle sue creature.
Siamo tutte lì in mezzo alle pagine
di una anonima scrittura, tranquille.
Si inclina il verbo di fronte alla soglia
delle offerte: il culto deforma il mito.


HÉCATE

Esquecemos o mito, que somos cem
e que tudo esteja por trás do nome.
Recostamo-nos sobre o dorso de Deus.
Suas imagens disformes folheamos,
a nobreza resignada de suas criaturas.
Estamos todas ali em meio às páginas
de uma anônima escritura, quietas.
Curva-se o verbo diante do alpendre
das oferendas: o culto deforma o mito.


IL NOTAIO

Un nome per le parti del tuo corpo che emettono fuoco,
un altro per il volto che si copre dalle tue fiamme.
Un nome che sia per la guida delle tue gambe fluttuanti,
e un altro ancora per i campi che evitano la tua dimora.
Tutti saranno felici dei loro nomi. Certi con più d’uno,
altri sul punto di perderlo. Il nome li rende quasi perfetti.
Annotami un dio senza nome e mi incaricherò io di ciò.
Saranno belli o tristi, bendati o portati dalla corte,
violenti o angosciati. C’é chi si sente unico
e si giudica rinato ogni volta che il suo nome é pronunciato.
Perchè essendo uguali, i nomi sono anche diversi.
Li distribuisco pieni di illusioni. Favole o decreti,
rubrica di tutto quello che siamo o rifiutiamo. Non ti protegge
l’ inferno dal nome certo, veste con la quale entri in scena.


O TABELIÃO

Um nome para as partes de teu corpo que emitem fogo,
outro para o rosto que se guarda de tais chamas.
Um nome que seja para o guia de tuas pernas flutuantes,
e outro mais para os campos que evitam tua morada.
Todos estarão felizes com seus nomes. Uns com mais de um,
outros a ponto de perdê-lo. O nome os torna quase perfeitos.
Aponta-me um deus sem nome e disto me encarrego.
Serão belos ou tristes, enfaixados ou traídos pela corte,
violentos ou angustiados. Há os que se sentem únicos
e julgam-se renascidos a cada vez que o nome é pronunciado.
Mesmo sendo iguais, os nomes também são distintos.
Distribuo-os carregados de ilusões. Fábulas ou decretos,
rubrica de tudo o que somos ou rejeitamos. Não te protege
o inferno do nome certo, traje com que entras em cena.



[Tradução ao italiano, por Silvia Favaretto. Caricatura de Floriano Martins, por Valber Benevides. 2007.]



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