II - CÉUS REMOTOS
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Não recordo angústia mais
latejante provocada pela asma. Ou talvez tenha sido uma ambição maior do
espírito. Chafurdar-se em agonia até não poder mais entender a totalidade do
céu-templo. Tornar os sentimentos uma intensidade de mal-entendidos. Há uma ironia
em tudo isto: o homem se fez um antípoda de si mesmo. Julgamo-nos
inconfessáveis. Não há continuidade em nossos feitos. Limitamo-nos à dor da
perda momentânea, a um aniquilamento em face do súbito desenlace. Satisfazemo-nos
com a melancolia, uma diaconisa da veleidade. Morto tio Eudoro, embaralho toda
a minha vida. Torno-me um espectro hipócrita em fulgurante estupidez. O morto
conserva o crânio de nuvens, voos de flores, um quartilho de essência a
renovar-se, uma cisma, no mínimo. Um morto nunca morre em si. Como espatifar-me em
pesadelo em inapreciável jogo da angústia? Uma operação confusa, a da perda de
continuidade. O morto não pode ser a mobília da dor. Não há honradez nisto. Nem
mesmo a memória sobrevive a tamanho desleixo.
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