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- Nada
vem tão calmo, ao gosto de quem recebe. Prefiro a ideia de me descobrir sozinho,
os limites lançados sobre mim. Não escondo nada de meu dia. Tampouco penso se
acaso tal dia exprime algo. Quando alguém se empenha em defender uma razão de
ser, simplesmente deixa de me interessar. O que aprendemos não o fazemos como
argumento contra o ignorado. Não somos furiosos, alucinados ou equivocados.
Estou perdendo a razão possível, misturando-me à voz geral. Serão os primeiros
sinais de uma essência esquizoide estoica? Basta recordar Fellini: “quem deseja
ser protegido, deve resignar-se a ser protegido até às últimas consequências”.
O que esperar da vida senão um pomar de especulações? Febres, fantasias,
devaneios, agonias. Notícias, sempre. Retaliações, subornos, fraudes. Notícias
de toda forma. Dissipações, maledicências. Notícias as mais inaceitáveis. Paranoia.
Notícias da mais intensa felicidade. A memória, o entendimento e a convicção
jamais recorridos senão em função da notícia. O homem convertido em aviso de
nada. Onde buscou proteção? Devo dar sinal de tudo o que faço, ser
reconquistado pela notícia do que fui um dia. O garoto indeciso diante de
tantos fogos de artifícios. A ilusão de ser que foi construindo como uma
recolha de si. O frio que sentia em seu íntimo, o tremor diante de cada mínima
bobagem que lhe marcava a fogo a existência. Tudo isto não podia ser apenas notícia,
um frígido sinal do que se passa na alma de alguém. Detestava toda forma de
submissão do homem ao enunciado de sua vida.
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