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O menino
chorava acaçapado e nu ao lado do último dos três tanques de peixes.
Afundava-se em choro e medo. Não tinha a mínima ideia de que espécie de
fronteira havia cruzado. Dele aproximava-se, ajeitando a roupa sobre o corpo
suado, Mãe Dolores. A figura já não lhe era mais um atrativo. A essência,
agora, emanava o mais simples terror. Pequeno Ansioso humilhava-se ainda mais
junto ao lodo que de muito residia naquelas paredes. Miudeava ali todas as
formas do pânico. Revelava-se a ele um outro caráter do êxtase, ao tempo em que
ruminava um verdadeiro conhecimento do exílio.
- O que houve, meu menino? O que eu te fiz?
Mãe Dolores era toda estonteante. Não dava por um mínimo do
havido. O menino não fazia senão chorar. Levaram nisto uma eternidade. Uma
náusea vociferava por todo o tablado. Os peixes nos tanques. As frutas nas
árvores. O incerto tempo em si mesmo. Onde então estivera Mãe Dolores quando
nela estivera Pequeno Ansioso? E onde estivera ele? Para onde fora quando lhe
fisgou o desejo? E o que lhe parecia ainda pior: estaria fazendo as perguntas
certas? Tal inquirição acaso não seria um desvio, artimanha, uma falsa luz?
Foi-se acalmando e veio até ela, derramar-se no colo. Dissimulavam-se as
verdades mais translúcidas. Mãe Dolores brincava com a mão em seu rosto.
Dava-lhe um seio para o afago, pedinte. Apertava-lhe o nariz. Pedia que lhe
mordesse o lábio. Os dois enchiam-se de fraquejos.
- Eu não te faria mal algum.
Dizia isto e lhe entrançava os dedos no sexo.
- Quantos são os dedos? Quero em mim apenas o que é teu.
Deitou o menino no chão e lhe cobriu com o corpo. O vestido
deixado ao lado, pôs-se a remexer-se em convulsiva aleluia. Apenas os dois. Até
o fim.
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