VI - INVISÍVEIS TRILHAS
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- Livros
que fazem chorar são um tormento indesejável.
Quem
conceberia a ideia de um tormento desejável? A
frase sacudira Pequeno Ansioso. “Deus é mãe. Só assim pode haver panteísmo.” Era
o que lhe diziam aquelas leituras. Quando todos os seres se arrastam sobre a
terra somente a mãe se mantém de pé. Osires, Adad, Shiva, Tesup. Para cada um
havia uma mulher que dançava e os conduzia ao diálogo com o mundo. Uma mulher
que compreendia o que se passava dentro e fora do reino. Uma mulher que
fecundavam e que recolhia os filhos perdidos por toda a terra. Uma mulher que
lhes evitava que causassem maior desordem ao mundo. Essa mulher chamava-se Mãe.
Horrenda Múltipla Divina Negra Puta Devastadora Prolífera. Mãe de língua
pendente. Mãe de braços erguidos. Mãe ferida por toda a carne. Mãe com o corpo
recobrindo tudo. Retalhada, conjurada, sublimada. Os números são pedras de
jogo. Não expressam substância alguma. A matéria é susceptível a mudar de
forma. Desvios e deformações não são propriamente uma escolha. Não importa se
está frio ou quente, mas sim quem congela e treme ou arde e sua diante do
tempo.
Como
pode haver, mãe, um tormento desejável? Como posso ser narrador voluntário e
protagonista de uma ação desfiada sem dar substância ao paradoxo? Lia um livro
qualquer e chorava ou chorava e lia um livro qualquer?
-
Quero sofrer apenas um tanto. Que me diga Deus que outro tanto pode ser salvo
em nome desse sofrimento.
Quem
diria isto? Os livros não nos tornam condenados a coisa alguma. Tampouco nos
salvam de nada. São articulações oratórias, círculos de baba, códices restringidos,
árvores, rios, nuvens. Não são senão reflexo do que fazemos de nós. Não podem
nos levar a rir ou chorar ou incentivar ao crime ou causar pena ou nos impelir
ao suicídio. Os livros são objetos de identificação. Não trazem novidade
alguma. Não sugerem uma exótica ramificação de qualquer paradoxo. Não servem
melancolia ou frenesi em seu prato de signos. Os livros não têm complexo algum.
Os livros despertam interesses, são um caldeamento de sensações latentes. Não
há sequer por que escrevê-los. Quando se tornam indispensáveis não é senão
sinal de que uma sociedade decai. De uma certa forma os livros se chamam Mãe.
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