16
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Mãezinha, me prende de novo em teu corpo.
Um
riso comum chacoalhava a manhã.
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Tu não presta, Pequeno safado.
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Eu fico bem quieto. Não mexo um nervo.
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E o que tens mais?
Ria
e agitava-se, fugidia, cavilosa.
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Vem deitar aqui.
Ajeitava
o menino no centro de seu quarto.
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Tens que me prometer ficar bem quieto, sem um sinal de vida antes que eu diga.
Salpicando
ansiedade, inerte e despido de qualquer fragor, gesticula a concordância com um
mínimo esgar facial.
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Aqui vou eu. Que nada te escape, meu lindo.
Pousava
o desenleio com maciez e precisão, descendo meticulosa, enrediça, uma lúbrica
escuridão se desenhando, litúrgica, sobre o rosto felicitado de Pequeno Ansioso,
já quase todo ladeado pelo acetinado toldo daquele mágico anfiteatro em que se
constituía o vestido de Mãe Dolores, caindo, caindo, preparando a coerciva
tela, os passos da trama, as falas silenciosas, fragrante murmúrio de cada
movimento, a ordem confusa de tanto contentamento, lábios se tocando já sem
nenhum pudor, oferenda conclamada, o menino por beijar aquele precipício de
carnes, aguardando um sinal, corpo rijo, vítima esperando ser santificada.
-
“Ajeita contigo todas as formas de ver. Não deixa que nada te sufoque. Qualquer
desafio condena o homem à morte. Risco é condenação. Não se pode simplesmente
abandonar um sofrimento. O que pensas estar à mão é sempre o inacessível, a ocultação
de uma potência, o êxtase em que radica toda prosaica existência.”
Pequeno
Ansioso seguia ouvindo a ladainha algo impostora, minguando sob o vislumbre da
desordem encantada, o sexo absurdo derramado no rosto, colado a seus lábios,
pináculo que súbito despencava daquela iluminativa bestialidade, descria no
sentido incerto de cada coisa, porém algo mais íntimo lhe impedia a reação. E
assim como florescera o desejo recolhe-se agora a charada. Lentamente ergue-se
aquele toldo delirante, sem que se tenha escrito uma única frase de gozo ou
deleite. Os olhos esbugalhados do menino procuravam alguma resposta. A
ludibriante mulher refazia-se da arborescente condição, embruxando os
eufemismos, ainda com um livro na mão, de onde certamente pescara aquelas aves
de limo, meneios da retórica, Mãe Dolores, que ler não sabia, sábia de ecos e
da clara inocência bem dormida.
-
O que esperavas? A hóstia consagrada?
Riam-se,
quase com demência.
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